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sexta-feira, 13 de março de 2009

“Entre os Muros da Escola”, Palma de Ouro em Cannes 2008: um filme indispensável.

Pelas salas e corredores de uma escola pública parisiense, circulam todos os conflitos sociais, étnicos e culturais que envolvem o ensino básico na França e o mundo da educação, de forma genérica e universal. O que inicialmente parece ser um pequeno drama banal, englobando alunos problemáticos e um professor empenhado, logo se mostra um eloqüente e sincero exercício de imitação da vida. Em 2001, quando Laurent Cantet lançou A Agenda, com Daniel Auteil, criou a expectativa de que, mais cedo ou mais tarde, ele voltaria a oferecer um drama tão humanamente envolvente e verdadeiro quanto aquele. Era a angustiante história de um executivo que, inesperadamente, se encontra desempregado. Até aí, nada de extraordinário, mas o gancho da trama é que ele tenta esconder esse fato da família. Tardou um pouco até que ele retomasse o fio ascendente em sua trajetória de criador, mas essa espera compensou, porque agora ele nos oferece um drama excepcional, não somente pelas coisas que diz, mas pela maneira como foi construído. O primeiro espanto vem com a avassaladora impressão de realidade: chega a transmitir tanto, ou mais verdade que um documentário − modalidade de narrativa, aliás, da qual ele retira os elementos estilísticos básicos do espetáculo: câmara fora do tripé; ausência de trilha sonora pontuando as variações de clima; som direto; intérpretes amadores; montagem em continuidade; filmagem em locação, iluminação natural” etc. Mas, acima de tudo, predomina uma linha de encenação que pretende parecer informal e, por isso, aparenta um falso descaso nos figurinos e no encadeamento dos diálogos, escondendo o uso de maquiagem e de ensaios para preparar as tomadas. Em primeiro lugar, o professor protagonista é interpretado pelo mesmo François Bégaudeau (na foto abaixo), em cujo livro autobiográfico se baseia o roteiro. Ou seja, um civil (no sentido de alguém que não exerce a profissão de ator e nem foi treinado para esse ofício) interpreta a si mesmo. Em coerência com esse procedimento, todos os demais atores emprestam sua aparência e seus nomes verdadeiros aos personagens que encarnam, levantando a suspeita de que alguns deles estejam “fazendo o papel” de si mesmos.

Quando isso acontece, o resultado caminha para a catástrofe, ampliando até a sugestão de artificialidade no discurso: a pessoa que imita a si mesmo tende a se mostrar solene, empostada, ou inibida, mas nunca natural. (veja-se Jogos de Cena, de Eduardo Coutinho) A não ser que esteja trabalhando com um diretor extremamente criativo e habilidoso − uma coisa que Laurent Cantet não precisa mais provar a ninguém, uma vez que seu trabalho recebeu o prêmio mais prestigiado do cinema mundial, que é a Palma de Ouro do Festival de Cannes. Para o público brasileiro, porém, é preciso alertar de que não se trata aqui de mais um daqueles produtos franceses “experimentais”, que às vezes só conseguem como resultado a geração de tédio em larga escala. Apesar de se manter circunscrito ao universo de hui clos já expresso no título, o entrecho de Entre Os Muros da Escola traz o mundo inteiro para dentro filme, recorrendo ao humor, ao suspense e principalmente à nossa consciência de cidadãos.
Entre Os Muros da Escola
Entre Les Murs
2008 França
estréia 13/03/2009
Direção Laurent Cantet
Com François Bégaudeau, Nassim Amrabt,
Laura Baquela, Juliette Demaille

Um comentário:

Heloisa disse...

Adorei seu blog e recomendei aos meus alunos.
Parabéns!
Helô Furlanetto