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sábado, 18 de abril de 2009

De Charlie Kaufman, “Sinédoque” quer dizer a parte pelo todo, ou vice-versa, tanto faz.

Charlie Kaufman não estava contente em ser apenas um dos roteiristas mais cultuados do cinema americano. Em filmes como “Adaptação”, “Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças”, ou “Quero ser John Malkovich”, mostrava que sabia ser diferente da corrente principal que percorre as histórias criadas em Hollywood. Agora, pela primeira vez dirigindo o próprio roteiro, ele continua complexo, cerebral e diferente. Mas também um tanto prolixo e confuso. O título, por exemplo, era originalmente “Schenectady, New York”, cidade em que se passa a trama. Depois foi transformado em “Synecdoche, New York”, provavelmente só para parecer mais “chique”.
Nas seqüências iniciais, Kaufman ainda mostra certo controle, descrevendo com sarcasmo o lamentável casamento de um diretor teatral inseguro e hipocondríaco (Philip Seymour Hoffman) com uma pintora lésbica e mentirosa (Catherine Keener). O diretor ganha um polpudo prêmio em dinheiro e resolve montar uma peça de teatro que se propõe a ser mais realista que a própria vida. E a própria cidade em que vive começa a ser reproduzida dentro de um imenso galpão (foto abaixo), em que o espetáculo será encenado, numa montagem que leva 17 anos de preparação. Trajetória oposta, portanto, ao que de fato se propõe Lars von Triers em "Dogville" e "Manderlay", que expurga a cenografia da encenação.
Em seguida a narrativa começa a enveredar para o absurdo, estilo que sempre funciona mais no teatro que no cinema, com exceção de obras raras, como “O Processo” de Franz Kafka, dirigido em 1962 por Orson Welles. Ou do inesquecível “Os Manuscritos de Saragoça”, de 1965, do polonês Wojciech Has (Cracóvia, 1925 – 2000), baseado em livro de Jan Potocki. A estranheza começa a se manifestar pelo comportamento desumano dos diversos médicos que ele consulta, inclusive da psicanalista vivida com a ironia de sempre por Hope Davis. (foto abaixo)
A indeterminação se amplia com a (talvez) deliberada imprecisão dos índices de tempo ao longo do roteiro. O próprio protagonista, por exemplo, chega a dizer que sua filha tem apenas 4 anos, quando outro personagem lhe avisa que ela já está com 12. Pouca cenas depois, ela se encontra com a moça, aparentando bem mais de 20. Ocorre que esses elementos “estranhos” talvez só tenham sentido (ou sentido algum) para o próprio diretor-roteirista. Como por exemplo, a casa comprada pela bilheteira do teatro (Samantha Horton) que se encontra sempre pegando fogo, sem nunca se incendiar por inteiro. Independente de seus possíveis significados, esse tipo de simbologia não colabora para a fluência do roteiro e age como pedra nos sapatos de quem caminha por suas cenas.
Sinédoque, Nova York
Synecdoche, New York
2008 – EUA
Estreia 17/04/2009
Direção de Charlie Kaufman
Com Philip Seymour Hoffman, Samantha Horton,
Hope Davis, Catherine Keener, Jennifer Jason Leigh

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