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quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Uma viagem no tempo pelo túnel de um metrô

Meus caros!
Ainda não fui ver "O Sequestro do Metrô". Mas reli a crítica que escrevi há EXATAMENTE 34 anos sobre uma filmagem anterior da mesma história. Ela foi publicada no dia 18 de setembro de 1975, no "Jornal da Tarde" que, na época era o mais chique do país, com Murilo Felisberto como redator chefe e Maurício Kubrusly como editor de cultura. Foi lá que eu comecei esta trajetória de crítico, em 1972. É, no mínimo, um atestado de "senioridade" neste ofício que me proporcionou o prazer de ver tantos filmes e a oportunidade de refetir sobre eles. Confesso que não tive o cuidado de contar quantos títulos assisti de lá para cá, mesmo porque sempre prestei mais atenção em qualidades e menos em quantidades.
Naquele filme, Walter Mathau tinha o papel que agora é do Denzel Washington. E, no lugar do John Travolta, estava Robert Shaw. A ênfase era mais no humor do que no suspense. O que eu proponho a vocês é me ajudarem na comparação entre os dois filmes. E vejam em que medida a análise de 1975 se aplicaria (ou não) à versão de 2009. Por minha conta, deu para perceber o quanto eu mudei em termos de estilo e forma de abordar um filme, ao longo dessas 3 décadas e meia criticando o trabalho dos outros. Tomara que as mudanças tenham sido positivas. Após o cartaz de 1974, segue o texto da crítica de 75, com um tipo de letra diferente. Aguardo os seus comentários sempre tão pertinentes.
Quando os diretores não confiam no suspense da história que devem filmar, geralmente tentam adicionar outros ingredientes. Em "Juggernaut" (*) , por exemplo, Richard Lester tinha consciência de estar pisando num terreno onde somente Polanski ou Hitchcock podem caminhar à vontade. Por isso, contou a história do resgate de um transatlântico da maneira mais irônica possível. Neste filme, em que os seqüestradores passam para o "underground", o diretor Joseph Sargent mostra-se incapaz, tanto de suspense, quanto de ironia. O máximo que consegue é misturar momentos de tensão com amenas palhaçadas.
A tensão fica a cargo de Robert Shaw, que comanda o bando de sinistros sequestradores. Walter Matthau faz o policial que tenta negociar com os bandidos. Ele lidera o resto do elenco que, em sua totalidade, se encarrega das palhaçadas. Como num programa humorístico de televisão, todas as frases ditas pelos personagens precisam conter uma piadinha. A quadrilha informa que quer um milhão de dólares para liberar os 17 reféns que mantém presos num vagão do "subway". Ao que Matthau, pelo rádio, responde: "Quero saber como é que vocês pretendem fugir daí. Só se pedirem para a população de Nova York fechar os olhos e contar até cem".
Robert Shaw avisa a polícia que, se não enviassem o dinheiro no prazo de uma hora, começaria a fuzilar os reféns. Inicia-se, então, uma batalha contra o tempo e contra a situação financeira da cidade, que não dispõe da quantia solicitada. A ação do filme transcorre quase em "tempo real" — o que aumenta ainda mais a semelhança com Juggernaut. Mas, enquanto Lester retirava humor das situações e dos acontecimentos, o diretor deste filme procura fazê-lo somente através das "jokes" ditas pelos personagens. Antes de ser metralhado, o chefe da estação do metrô ainda se lembra de perguntar aos bandidos: "Por que vocês não escolheram um avião como fazem os sequestradores normais?".

A história, além de previsível, apresenta-se mal montada: o espectador nunca sabe quando deve rir ou sentir medo. O suspense, portanto, fica sem efeito. E as piadas só têm graça quando ditas por Walter Matthau — um ator que não precisa dizer nada para sugerir o riso. Depois de uma hora e meia de perigo, terminado o sequestro, ainda há tempo para uma última brincadeira. Dentre os apavorados reféns, apenas uma pessoa não sentira medo: uma velhinha, bastante alcoolizada, que dormira o tempo todo. Quando o vagão estaciona, ela acorda e pergunta: "Já chegamos à rua 42?". Com um roteiro tão truncado, a figura da velhinha torna-se a mais coerente de todas. O seu sono deve ter inspirado muita gente da platéia e representa a única atitude possível diante do filme.

(*) "Juggernaut" - filme inglês de Richard Lester que foi lançado na mesma época, sobre o sequestro de um transatlântico, com Richard Harris e Omar Shariff.

Um comentário:

Anônimo disse...

Luciano.
Adorei ler seu comentário de anos atrás. Combina muito com uma pessoa jovem e, talvez, mais exigente com o resenrolar de uma estória. Esse novo filme é muito simpático, eu adoro os 2 atores! O suspense é gostoso e a peílicula passa super rápido! Para mim seria um quase 3 estrelas. Travolta está ótimo. A direção, que não entendo, parece ser bastante boa.
Abraços
Regina H.