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sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

"José de Anchieta - Poeta e apóstolo": minha homenagem ao aniversário da cidade.

Em 2004 publiquei uma novela histórica sobre o fundador de São Paulo: "José de Anchieta - Poeta e apóstolo". Passados 456 anos da fundação da cidade, a lembrança do Padre José de Anchieta pode até ter esmaecido com o tempo. Mas a sua importância histórica permanece inabalável, por mais que oscile o foco da historiografia brasileira. Confesso que escrevi o livro pensando numa adaptação para o cinema e agora, que estou trabalhando numa segunda edição, adoraria receber comentários dos leitores e amigos. Se ele já estiver esgotado nas livrarias ou na Editora Paulinas, podem me solicitar uma cópia, por aqui ou por e-mail (vazramos@terra.com.br).

Em 1617, apenas 20 anos depois de seu falecimento, iniciou-se a campanha por sua beatificação. Os primeiros biógrafos, como Quirício Caxa e Simão de Vasconcelos, tinham acesso aos documentos do processo, no qual as pessoas que o conheceram testemunhavam sob juramento. Por isso, seus textos se acham repletos de prodígios e acontecimentos sobrenaturais que ocorriam, às centenas, ao longo da vida do Padre José. Já os fatos de natureza política e cultural, por exemplo, aparecem relegados a um papel secundário.
Nesta que é a primeira biografia de Anchieta elaborada fora dos quadros da Companhia de Jesus, a ênfase fica invertida: sem ignorar os assombrosos dotes intelectuais de Anchieta, nem omitir os seus milagres mais conhecidos, são suas ações concretas, como homem de cultura e líder religioso, que assumem o primeiro plano da narrativa. Os aspectos políticos da sua trajetória ganham o merecido destaque.

Uso a palavra política numa acepção ampla. Se naquele tempo ainda não havia partidos e nem um aparelho estatal consolidado, certamente já se manifestavam conflitos de interesses: uma verdadeira "guerra de signos" em que se chocavam diferentes idiomas, princípios religiosos, valores morais e estilos artísticos.
No Brasil do século XVI, vivendo peripécias repletas de perigos e emoções, além de elaborar a primeira gramática da língua tupi (capa acima), Anchieta criou métodos para difundir o evangelho que se harmonizavam com a cultura indígena. E assim, superando incontáveis e tremendos obstáculos, ele trouxe milhares de nativos para o cristianismo, protegendo-os assim da escravatura colonial. Era, sem dúvida, o que hoje chamamos de uma “política cultural” clara e definida. Nesse combate, as armas do beato Anchieta eram a firmeza religiosa, a inocência poética com que enfrentava todas as dificuldades e a irrestrita dedicação aos humildes. Anchieta só assumiu o comando dos jesuítas no Brasil em 1578, mas talvez a sua mais ousada realização no campo da diplomacia tenha sido a paz estabelecida com os tamoios em 1563, muito antes de ser ordenado sacerdote.
Anchieta foi também o fundador do teatro no Brasil. Em suas peças interagiam personagens que falavam espanhol, com outros que se expressavam em latim, em português ou em tupi. Mitos indígenas dividiam a cena com figuras da tradição católica e personagens históricos. Além de divertir e passar recados políticos junto com lições de vida, aqueles textos transmitiam valores religiosos e noções de moral. (acima e abaixo, Anchieta na visão de Cândido Portinari)

Mas este é apenas um dos aspectos do significado histórico de seu trabalho que, ao fomentar a difusão cultural, promovia a paz e a mútua aceitação entre os diversos grupos sociais do cenário colonial brasileiro: colonos portugueses, militares espanhóis, indígenas convertidos e pagãos. É até possível estabelecer uma conexão entre esse trabalho e a forma como se consolidou a diversidade étnica deste país, notável pela tolerância cultural e religiosa.

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