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segunda-feira, 3 de outubro de 2011

“Família Vende Tudo” volta, de certa forma, às chanchadas brasileiras dos anos 1950

A maior parte dos comentários acerca de “Família Vende Tudo” associam o filme de Alain Fresnot a “Feios Sujos e Malvados”, que o italiano Ettore Scola fez em 1975, mostrando uma família habitante de uma favela romana, em que dezenas de pessoas vivem num barraco de um cômodo único e só pensam em roubar a fortuna que o dono da casa tinha recebido do seguro por conta de um acidente de trabalho. É oportuno, porém, pensar nas diferenças entre os dois casos, para entendê-los melhor.
Enquanto Scola elaborou uma alegoria quase trágica sobre um grupo social unido apenas em função dos interesses mais básicos e imediatos, Fresnot faz uma comédia satírica acerca da dissolução atual dos valores tradicionalmente consagrados e o surgimento de novos critérios de solidariedade familiar na periferia das grandes cidades. O grotesco dos personagens e a frenética luta pelo dinheiro são comuns aos dois filmes, mas, enquanto os de Scola chegam a tramar um assassinato, os de Fresnot apostam na vida e fazem de tudo para que a beldade da família fique grávida de uma celebridade da televisão e da música popular. Aí se acha a vertente crítica do exemplar nacional, que faz menção à recente onda de casos amorosos de políticos corruptos, cantores assanhados e atletas afoitos – sempre invariavelmente lucrativos para as vítimas.
O enredo também se fundamenta na atual eliminação da privacidade dos famosos, cuja vida íntima se transformou em nova mercadoria de consumo. Aliás, esse fenômeno é mundial, haja vista a suspensão do tabloide inglês News of The World, envolvido em um escândalo de escutas ilegais e fabricação de escândalos. Nessa comparação, salientam-se também o tom e o ritmo tipicamente brasileiros da farsa, que remete aos tempos das chanchadas cômico-musicais da década de 1950. Só que as mocinhas daquela época, geralmente vividas por Eliana Macedo ou Fada Santoro, faziam de tudo para penetrar no show business como artistas, enquanto a do filme de Fresnot procura trilhar o caminho inverso. Destaque para veia humorística dos intérpretes, como Lima Duarte, Luana Piovani, Vera Holtz, Imara Reis e Caco Ciocler, que carregam o filme nas costas.

FAMÍLIA VENDE TUDO
Brasil, 2011, 89 min, 12 anos
estreia 30 09 2011
gênero comédia / sátira
Distribuição Playarte
Direção Alain Fresnot
Com Lima Duarte, Caco Ciocler, Vera Holtz
Marisol Ribeiro, Luana Piovani, Imara Reis
COTAÇÃO
* *
REGULAR

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