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quarta-feira, 11 de julho de 2012

“Na Estrada” : única estreia de uma semana dominada pela produção americana

Walter Salles certamente sabia que o filme seria visto com certa desconfiança pela multidão de admiradores do livro de Jack Kerouac em que se baseia. Isso acontece com quase todos os cineastas que se dispõe a adaptar obras demasiadamente marcantes e incensadas. Quando, por exemplo, Orson Welles filmou um livrinho policial boboca chamado “A Dama de Shangai” todo o mundo vibrou. Mas milhares de narizes se torceram quando ele ousou adaptar obras como “MacBeth” de Shakespeare, ou “O Processo” de Kafka. Cada leitor desenha mentalmente as imagens que as palavras lhe sugerem e estas dificilmente se encaixam com aquelas que o filme propõe.
Neste caso, o próprio livro vale mais pelo rompimento que estabelece com as correntes formalmente dominantes na literatura do que pela história que desenvolve. Ou seja, um bando de garotos que vivencia, meio à margem do sistema dominante, o torvelinho de mudanças culturais presenciado por sua geração, a chamada “beat generation” do final dos anos 1950. O fato é que o trabalho de Walter Salles apresenta muito mais qualidades do que defeitos palpáveis. Elenco perfeito, com destaque para o músico Sam Riley, que já tinha brilhado em “Control” (2007) no papel de Ian Curtis. O setor feminino, entretanto, é o que garante sustentação emocional para a narrativa, com Kirsten Dunst, Amy Adams, Kristen Stewart e Alice Braga. Música de Gustavo Santaolalla e fotografia de Eric Gautier, corretíssimas – ambos os profissionais que estiveram com o mesmo diretor em “Diários de Motocicleta”.
As passagens dramáticas escolhidas em meio ao oceano revolto de palavras reunidas por Kerouac exprimem adequadamente aquele coquetel de tédio, solidão, ausência de medo e de perspectiva, sofreguidão e necessidade de contato físico misturado com êxtase psíquico que marcava a juventude da época. O mesmo vale para as referências sonoras, entre as quais se salienta a antecipação maluca do jazzista Slim Gaillard colocando palavras árabes e judaicas na letra de “Yep-rock- heresy” – número musical, aliás, reconstituído por inteiro no filme, exatamente como se fazia nas chanchadas brasileiras produzidas naquela ocasião.
Alguns viram o filme como uma espécie de documentário sobre o período – e pouco se emocionaram. Outros, porém, enxergaram a ourivesaria cinematográfica na construção de imagens surpreendentes, como a ponte Golden Gate de São Francisco abatida pela névoa, ou no ideograma constituído pelas figuras da estrada e do imenso rolo de papel no qual o escritor registrou suas lembranças de viagem. Um esforço que, segundo o jornalista e escritor Truman Capote, não era exatamente de literatura, mas sim de datilografia.
NA ESTRADA
On the Road
EUA/França/Reino Unido, 2012, 140 min, 16 anos.
gênero drama / história / adaptação literária
Distribuição Playarte
Direção Walter Salles
Com Garret Hedlund, Sam Riley, Kristen Stewart,
Kirsten Dunst, Viggo Mortensen, Alice Braga
COTAÇÃO
* * * *
ÓTIMO

Um comentário:

Rafael W. disse...

Estou ansioso.

http://avozdocinefilo.blogspot.com.br/