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terça-feira, 27 de novembro de 2012

A Guerra do Contestado aconteceu há um século e até hoje não a entendemos por inteiro


Está em cartaz na cidade um documentário essencial para quem se interessa pela História do Brasil, especialmente sobre temas e personagens que não aparecem nos livros didáticos – nem naqueles que são publicados nas regiões onde determinados fatos aconteceram. Falo de “O Contestado - Restos mortais”, produzido e dirigido por Sylvio Back (“Lost Zweig” – 2002), que é um cineasta catarinense profundamente interessado nesse episódio histórico que foi a Guerra do Contestado. Já fez inclusive um longa metragem de ficção sobre ela: “A Guerra dos Pelados” (1970), um de seus melhores filmes, hoje considerado um clássico do gênero drama histórico no Brasil. Aquele conflito em que morreram milhares de militares e civis aconteceu entre 1912-1916, num lugar que tem esse nome porque foi cenário de questões de fronteira e disputa de terras situadas na divisa do Paraná com Santa Catarina.
(abaixo, os vaqueanos - jagunços em foto de época)
Ali aconteceu uma revolta popular e messiânica, em muitos aspectos semelhante à Guerra de Canudos que eclodiu no interior da Bahia entre 1896 e 1897, só que mais duradoura e provavelmente mais sangrenta. É possível até que essa lacuna nos livros didáticos seja motivada também pela complexidade das suas causas, de explicação sempre difícil para alunos e professores. Por isso mesmo, Sylvio Back fez questão de incluir no filme diversos pontos de vista, ouvindo historiadores, jornalistas, descendentes de pessoas que viveram os acontecimentos no Contestado (foto abaixo) e até cronistas, compositores e folcloristas que lidaram com o tema. Todos filmados com o mesmo fundo negro, que destaca a expressão e as feições do entrevistado, mas não rouba a atenção do que é dito por eles. 
Talvez para não deixar nada de fora da discussão, ele também filmou manifestações do que seriam espíritos de vítimas e combatentes da guerra, incorporados em cerca de 30 médiuns (foto abaixo). Aliás, Back já tinha experimentado esse recurso em 1984, no média-metragem “O Autorretrato de Bakun”. Apesar de não acrescentaram novas informações à pesquisa histórica, essas cenas atribuem forte dramaticidade ao filme que, na realidade, é um relato multifacetado, verbal e racional acerca do assunto. Além do cuidado do diretor em atribuir coerência e uma ordem sociológica a todos esses discursos tão diferenciados, o filme é amplamente ilustrado com fotos, caricaturas, filmes de época e as surpreendentes passagens de transe mediúnico – esse o grande achado desta obra, que adiciona assim mais um lance na discussão atual a respeito do sentido ético e ontológico do recurso da encenação na construção dos documentários.

O CONTESTADO – RESTOS MORTAIS 
Brasil – 2011 – 118 min. – Livre
estreia 23 11 2012
gênero documentário/ história
Distribuição Espaço Filmes
Direção Sylvio Back
COTAÇÃO
* * * *
ÓTIMO

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