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domingo, 18 de setembro de 2016

"Menino 23" é um documentário estarrecedor sobre o racismo e a violência à infância


Na década de 30, 50 crianças negras foram sequestradas e escravizadas por fazendeiros

“Menino 23 – Infâncias Perdidas no Brasil” é o título de um documentário premiado como melhor roteiro e melhor montagem no recente festival Cine Ceará. Foi dirigido por Belisário Franca, autor do premiado“Amazônia Eterna” de 2012. Trata-se de um filme investigativo, em que ele trabalha a partir de uma pesquisa do historiador Sidney Aguilar Filho,

O trabalho deu origem a uma tese de doutorado aprovada em 2011 na Unicamp, com o título de "Educação, Autoritarismo e Eugenia: Exploração do Trabalho e Violência à Infância Desamparada do Brasil (1930-1945)". Ela trata da desconcertante descoberta de que na década de 1930, cerca de 50 meninos, em sua maioria negros, foram retirados do orfanato Romão Duarte do Rio de Janeiro e enviados para uma fazenda na região de Campina do Monte Alegre em São Paulo.

Fato impressionante é que aquele local era de propriedade da família Rocha Miranda, que simpatizava com o nazismo. Tanto que alguns de seus membros eram militantes da Ação Integralista, que consistia em uma versão brasileira da ideologia nazista. E para tornar o caso ainda mais estarrecedor, um agricultor da vizinhança descobriu na fazenda um sem número de tijolos marcados com a cruz suástica. A pesquisa do professor Sidney Aguilar Filho, aliás, começou em 1998, quando uma aluna afirmou ter visto um tijolo com aquele símbolo alemão.

Aloizio Silva (foto), o menino numerado com o 23

O mérito maior da produção de Belisário Franca foi ter localizado e entrevistado dois daqueles garotos que trabalharam por 10 anos como escravos no local, onde eram numerados, como nos campos de concentração da Europa. Agora com mais de 90 anos de idade, vemos e ouvimos os de números dois e vinte e três – esse o único que ainda vive na região. De modo elegante e discreto, o diretor encenou algumas imagens da narrativa para enfatizar determinados climas dramáticos. 

O filme é rico em imagens de arquivo, como filmes de reuniões da Ação Integralista Brasileira dos anos de 1930. A narração, ou seja, a apresentação da história ficou a cargo do próprio escritor da tese que deu origem ao filme “Menino 23” que, em alguns momentos, não consegue ocultar as suas emoções. 

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