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segunda-feira, 28 de novembro de 2016

"Snowden" é preciso na descrição dos fatos mas falho quanto a sua dramaturgia


Joseph Gordon-Levitt vive o ex-agente da CIA Edward Snowden 

Deste os tempos de Aristóteles que, lá no século 4 a.C., foi um primeiros sábios a teorizar sobre a mecânica da dramaturgia, os que escrevem sobre personagens em conflito sabem que os espectadores preferem acompanhar aqueles que têm uma trajetória clara e definida. Os escritores podem variar em torno desse princípio e os críticos até aplaudem quando um autor consegue fugir dessa linha e, mesmo assim, fazer um filme interessante. Mas o público, sem dúvida, prefere se envolver com uma narrativa em que se conhece e se compreende o objetivo do protagonista.

É justamente nesse aspecto que se questiona “Snowden – Herói ou Traidor”, o filme mais recente de Oliver Stone - aquela celebridade premiada com Oscars por “Platoon” e “Nascido a 4 de julho. Ao longo de sua história como realizador, é fácil notar que ele tem preferência por obras construídas em torno de personagens fortes, ou seja, figuras cuja meta todos identificam facilmente – não apenas o espectador, mas todos os seus contemporâneos.

Assim, em “Poder e Cobiça”, Gordon Geko só pensava em ganhar dinheiro, muito dinheiro. É evidente que “Nixon” e George Bush do filme “W” fariam de tudo para se manter na presidência da republica. Por sua vez, “Alexandre” queria dominar o mundo – aliás, por coincidência, aquele conquistador era uma figura muito ligada ao próprio Aristóteles, de quem ele foi aluno. E que, no filme “Alexandre”, de 2004 foi interpretado por Christopher Plummer.


O diretor Oliver Stone (último à direita) dirige seus atores em cena de "Snowden"


Essa preocupação dos roteiristas de cinema em deixar evidente e bem explicada a intenção dos protagonistas talvez tenha alcançado o auge no gênero do faroeste. No recente “7 Homens e Um Destino, por exemplo, a maior parte do tempo é gasta na descrição dos motivos de cada um dos 7 pistoleiros em participar da batalha que só acontece nos momentos finais. No filme “Snowden”, com certeza o personagem central não tem o tipo físico de caubói, mas de um “nerd” tímido e introvertido. Mesmo assim se esforça para ser aceito no exército e ser escalado para combater no Iraque. Mas seu talento para informática lhe abre as portas da CIA, onde vai trabalhar como espião, assim como todos os seus colegas.

Sem o menor talento para James Bond, ele vai se aprofundar em criptologia, desvendando códigos e algoritmos para combater os hackers a serviço da China, da Coria do Norte e demais países perigosos para os Estados Unidos. Quando ele descobre que as nações amigas, como o próprio Brasil, também estão espionadas, ele então vira a mesa e revela tudo para a imprensa mundial. E nós espectadores? O que fazemos com o resto do filme? Como se explica aquela ascensão de meteoro se, o rapaz não tivesse provado a sua fidelidade ao sistema? Em suma, em “Snowden – Herói ou Traidor” Oliver Stone descreve os fatos com precisão mas não nos explica direito, em termos de dramaturgia, porque eles aconteceram.

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