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domingo, 30 de outubro de 2016

"Vincere" narra a ascensão da extrema-direita fascista ao poder na Itália do entreguerras


O fascista Benito Mussolini (Filipo Timi) e sua esposa Ilda Dalser (Giovanna Mezzogiorno) 

Uma dos mais aguardados destaques da 40ª Mostra Internacional de SP é a estreia de “Belos Sonhos”, de Marco Bellochio. Diretor este que é quase um monumento vivo do cinema europeu dos anos de 1960: ele dialogava com todos os movimentos sociais e artísticos que transformaram por completo aquela década. Agora com 77 anos, Bellochio é aquele mesmo companheiro de Pier Paolo Pasolini que, naquela ocasião, inspirava e alimentava a onda da contra-cultura com “De Punhos Cerrados”, filme citado pela nouvelle vague e pelo cinema marginal brasileiro.
Depois de passar por problemas de saúde, retomou a carreira, ganhando um urso de prata em Berlim (1991) com “A Condenação”. Antes de assistir a obra mais recente “Belos Sonhos”, é interessante relembrar o filme “Vincere” (filme ao qual o trailer acima é referente), que há 7 anos foi bem recebido nas telas de São Paulo, depois de ter concorrido à Palma de Ouro em Cannes. Esse filme mostra a ascensão do ditador fascista Benito Mussolini, narrada do ponto de vista de sua primeira mulher e financiadora Ida Dalser, encarnada por Giovana Mezzogiorno.

Pelo filme vemos que o ditador iniciou a carreira como líder socialista e, depois, traiu os seus ideais em nome do poder. No enredo escrito pelo próprio Bellochio, a protagonista de “Vincere” é ela, a personagem de Giovana Mezzogiorno, que luta para ter o filho que teve com ele reconhecido pelo Duce. Mas que, exatamente por isso, passou 11anos de sua vida internada em manicômios.

Quando Ida conheceu o jornalista Mussolini, ele ainda era o editor do periódico “Avanti!” e ardente socialista, que sonhava em liderar as massas na direção de uma ideologia popular anticlerical e republicana. Acreditando nos ideais de Mussolini, Ida vendeu todos os seus pertences para financiar um novo jornal fundado por seu amante, o “II Popolo d´Italia”, e assim apoiá-lo em sua trajetória política.



O futuro ditador de extrema-direita Benito Mussolini é central na trama de "Vincere"

A chave do roteiro é justamente essa: Ida Dalser não era louca, mas o país inteiro perdera a razão, na trilha de seu líder megalomaníaco e desequilibrado. Este é interpretado por Filipo Timi e também em pessoa, nos trechos de documentários que se misturam de modo bastante harmônico com a ficção.

Na verdade, “Vincere” é uma experiência que concilia na mesma narrativa uma vertente intimista com outra épica, com grandes massas em movimento, muito claro-escuro, e uma trilha sonora substantiva e quase operística. Propositalmente, para contrastar com a figura monolítica Mussolini, a personagem não tem conflitos internos e segue até o fim fiel a seus princípios.

sábado, 29 de outubro de 2016

O italiano "Belos Sonhos", de Marco Bellocchio, tem sua estreia na Mostra de Cinema de SP


O diretor Marco Bellocchio (foto) é também homenageado esse ano no evento

Entre os filmes cultuados no vasto repertório da 40ª Mostra se destaca “Belos Sonhos”, do italiano Marco Bellochio. Sua chegada ao Brasil para se envolver direto nas atividades do evento, com entrevistas, palestras e máster classes, estava prevista já para o evento de abertura na última  quarta-feira. Mas ele não pode viajar e mandou um bilhete pedindo desculpas ao público paulista. E nesse recado ele dizia que tinha conhecido o cinema brasileiro por meio de três cineastas que conhecera na escola chamada "Centro Experimental de Cinematografia". Eram eles Gustavo Dahl, Paulo Cesar Saraceni e Glauber Rocha. Todos eles há muito tempo falecidos. Isso mostra que o conhecimento de Bellochio sobre o Brasil e o seu cinema se acha bastante defasado.
Outra evidência, por outro lado, é que o próprio cinema de Bellochio se encontra historicamente datado, de modo que poderia ser considerado acadêmico ou tradicional. Sendo ele um artista de 77 anos de idade, se movimentando em uma indústria que começa a receber os seus novos realizadores mal eles saem das universidades, ou antes mesmo desse fato. Aliás, este “Belos Sonhos”, assim como “Vincere”, o seu lançamento anterior no Brasil, é um filme biográfico e também de época – o que fornece mais uma pista sobre as preferências estéticas e temáticas do cineasta que já dirigiu 46 títulos, desde a sua estreia em 1961.

Guardadas as devidas diferenças, seu filme anterior era “Vincere” (ou seja, “Vencer”) - a biografia de um jornalista, assim como o mais recente. Só que este se baseia na trajetória emocional do bestseller "Máximo Gramellini", enquanto “Vincere” consiste na história do ditador Benito Mussolini. Os pontos em comum entre os dois se resumem à técnica narrativa, com predomínio de tomadas curtas, uma luz de meios tons tendendo para o granulado, e um tratamento de som que atribui uma tonalidade metálica para as vozes. 

Cena do longa "Belos Sonhos"

Forçando um pouco no comparativo, poderíamos notar uma mesma fixação materna nos dois protagonistas. Explico enquanto a mãe de Máximo morreu cedo demais e se fez inesquecível, a pátria mãe italiana de Mussolini se rendeu por completo à política do ditador. Não há dúvida de que o filme anterior é melhor que este mais recente, mas “Belos Sonhos” impressiona como retrato de época. Derrapa, aqui e ali, num sentimentalismo piegas e açucarado apresenta uma portentosa produção. 

Os filmes lançados no circuito comercial de SP na semana iniciada em 20 10 2016



Cena de "No Fim do Túnel", destaque dentre as estreias da semana

Estamos em plena Mostra Internacional de Cinema, a de número 40. Antigamente se dizia que “a vida começa aos 40” e, portanto, o cinema está começando de novo aqui em São Paulo. No entanto, apesar da presença de mais de 300 filmes novos em oferta na cidade, o mercado prossegue em sua rotina de lançamentos semanais. Aqui estão eles.
O melhor de todos é sem dúvida o argentino em co-produção com a Espanha "No Fim do Túnel". Dirigido pelo prestigiado Rodrigo Grande e protagonizado por Leonardo Sbaraglia, que vimos em Relatos Selvagens e, muito recentemente na produção brasileira O Silêncio do Céu, trata-se de uma obra de suspense de primeiríssima qualidade. Digna dos grandes mestres do gênero.
Um viúvo paraplégico vive sozinho, até que decide alugar um dos quartos da sua casa para uma stripper e sua filha. Ele ainda não sabe que a moça pertence a uma quadrilha que estava cavando um túnel por baixo da casa, para roubar um banco da vizinhança. Por outro lado, os bandidos desconhecem que ele é um engenheiro eletrônico e que resolve interferir para atrapalhar o plano. O diretor Rodrigo Grande dá um show no ritmo da montagem e na competência com que filma as cenas eletrizantes nas quais o protagonista se movimenta na penumbra do túnel.
Para compensar temos uma decepção, com o cultuado cineasta Richard Linklater. Ele que fez obras marcantes como Antes do Por do Sol e Boyhood, da Infância à Adolescência. Trata-se de "Jovens, Loucos e Mais Rebeldes", uma comédia sem enredo, apenas com situações supostamente engraçadas sobre jovens universitários que ingressam numa universidade americana, no começo dos anos de 1980, e vão integrar um time de baseball.
Bem mais sério é "O Contador", com BenAfleck e J.K. Simmons. É dirigido por Gavin O'Connor que se notabilizou no Festival Sundance, com Livre para Amar de 1999. O personagem central é um contador de aparência comum que, no entanto, trabalha para uma organização criminosa das mais atuantes do mundo.
Importante mesmo, do ponto de vista histórico e cultural, é "O Mestre dos Gênios" no qual Colin Firth faz o papel do editor americano de livros Max Perkins. Para termos uma ideia da sua importância, basta dizer que foi ele quem descobriu e orientou autores como Scott Fitzgerald e Ernest Hemingway. O filme mostra como ele atuou como parceiro do escritor Thomas Wolfe, interpretado no filme por Jude Law. Trata-se do 1º filme dirigido pelo conhecido ator Michael Grandage e que, compreensivelmente, peca pelo excesso de teatralidade.
Finalmente temos mais dois filmes de mistério e suspense, ambos sem grande importância: O drama de horror "Ouija - Origem do Mal" "A Nona Vida de Louis Drax", dirigido pelo jovem francês Alexandre Aja,especializado no gênero.

Em sua 40º edição, a Mostra de Cinema de SP suscita os ânimos dos cinéfilos paulistanos

Poster da 40º edição da Mostra de SP

Além do Halloween que, por influência da cultura norte americana, transforma horror em brincadeira, o final de outubro traz para os cinéfilos de São Paulo uma espécie de doce pesadelo. Ou seja, o problema é conciliar o desejo de assistir as centenas de filmes oferecidos pela Mostra Internacional com a inevitável limitação imposta pelo tempo. Por serem novos, a maioria desses títulos são inéditos em todo o mundo e, portanto, são escassas as referências que poderiam permitir alguma seleção anterior. E isso quase transforma a escolha de cada programa numa espécie de jogo de adivinhação.


A organização desta que é a Mostra de número 40 procura amenizar essa angústia por meio de sessões especiais para os jornalistas. Mas é duro aceitar o fato de que muitos títulos tentadores deverão ser descartados nas decisões finais. Essa mesma dificuldade de decidir parece ter marcado a comissão julgadora da Premiere Brasil, como é chamada a Mostra Competitiva do Festival do Rio encerrada há pouco mais de uma semana. Os jurados resolveram lotear os prêmios principais, distribuindo-os entre os concorrentes. O de melhor ator foi retalhado em dois, para Nelson Xavier e Julio Trindade. O mesmo aconteceu com o de Melhor fotografia, para Heloisa Passos e Fernando Lockett.

O diretor italiano Marco Bellocchio, homenageado nesta edição da Mostra

Espalhada em 35 salas de cinema, por sua vez a Mostra Paulista tira partido de seus quarenta anos de experiência e desenvolve uma programação mais orgânica, montada em torno de figuras emblemáticas do cinema mundial contemporâneo. Isto é, um cinema que procura integrar tendências aparentemente antagônicas, como os filmes de entretenimento e aqueles comprometidos com as discussões políticas, históricas e sociológicas da atualidade. Essa característica fica corporificada na figura do cineasta Marco Bellocchio, homenageado nesta 40ª edição, quando receberá o Prêmio Leon Cacoff pelo conjunto da carreira.


Outro cineasta emblemático dessa ligação entre o cinema e as questões mais graves do planeta e que receberá o Prêmio Humanidade é o polonês Andrzej WajdaEle que também traz a política e a história no DNA de seu trabalho. Outros cineastas a serem revisitados e celebrados, principalmente por suas trajetórias, no decorrer da Mostra são Kieslowski, Jim Jarmusch, Paul Verhoven, Ingmar Bergman, Paolo Sorrentino e o saudoso Hector Babenco. 
No campo dos filmes nacionais, a grande expectativa é para "Pitanga", um dos preferidos da crítica no Festival do Rio. Trata-se de um documentário sobre aquele ator, dirigido por Beto Brant e por Camila Pitanga. Mas, em busca de um qualificativo para ilustrar, de modo geral, a qualidade do contingente dos filmes programados na 40ª Mostra, basta dizer que entre eles se encontra nada menos que 10 dos pré-candidatos ao Oscar de filme estrangeiro.

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Dicas de filmes nacionais do gênero juvenil para o mês das crianças


Cena do filme "O Escaravelho do Diabo"

Para mês das crianças, não há uma oferta abundante de títulos infantis. Por isso, é possível que pais e filhos procurem títulos já vistos para encontrar as suas opções de lazer. Fugindo um pouco dos desenhos animados, teremos bons filmes com atores ao vivo e, muitos deles, com histórias educacionais. Entre eles, temos dois títulos brasileiros, ambos ultrapassando os limites habituais das comédias que vem dominado a cena nacional.
“O Escaravelho do Diabo” é o primeiro longa de Carlo Milani, que vem trabalhando há 15 anos como diretor de séries na TV, como por exemplo “América” e “Amazônia”. O projeto pertence a um gênero ignorado pelos produtores nacionais – com raras exceções, como Breno Silveira (de “Eu e o Meu Guarda Chuva”) e Laiz Bodanski (de “As Melhores Coisas do Mundo”). Trata-se do filme juvenil, no caso uma história de suspense baseada num livro famoso de Lucia Machado de Almeida.

Uma pacata cidade do interior começa a ser ameaçada por um assassino serial que escolhe os ruivos para atacar. O personagem central é o adolescente Thiago Rosseti, mas os atores que se destacam são Celso Frateschi, Lourenço Mutarelli e, principalmente, Marcos Caruso – como sempre acrescentando um toque de humor à sua atuação.

Um pouco anterior é "Orquestra dos Meninos" do diretor Paulo Thiago, um veterano que em sua carreira realizou filmes com enfoques dos mais diversos. Em “O Vestido”, ele adaptou Carlos Drummond de Andrade. Fez o mesmo com Guimarães Rosa e Lima Barreto, em “Sagarana, o Duelo” e “Policarpo Quaresma”. Recentemente presenteou a todos com “Coisa Mais Linda”, um belo documentário sobre a Bossa Nova. 

Pelos temas e autores escolhidos, é possível perceber que ele é um cineasta que prefere filmar coisas do Brasil. Mas de um Brasil que não merece ser reduzido a um cenário de crimes e conflitos sociais pelo seu próprio cinema. Ele que, em 1973, tentou retratar o heroísmo patriótico em “A Batalha dos Guararapes”, agora se volta para o heroísmo individual e prioriza um país que, segundo ele, “deu certo”. Estamos falando de “Orquestra dos Meninos”, de 2008, baseado numa emocionante história real.


Nos anos de 1980, no interior de Pernambuco, um jovem maestro decidiu ensinar música a crianças que trabalhavam no campo. Formou uma orquestra que deu origem a uma fundação cultural e, mesmo assim, despertou a antipatia dos poderosos locais. O personagem é vivido com garra e humildade por Murilo Rosa. “Orquestra dos Meninos” é tão colado na realidade, que boa parte dos verdadeiros protagonistas da história estava presente no lançamento do filme. 

Os filmes lançados no circuito comercial de SP na semana iniciada em 13 09 2016 (II)


O diretor polonês Andrzej Wajda ganha retrospectiva na 40º Mostra de SP
Por causa do feriado da semana passada, passamos para esta o tradicional comentário sobre as estreias da semana. Esta é uma semana um tanto agitada pela proximidade da abertura da 40ª Mostra Internacional de Cinema de SP, que é o acontecimento cinematográfico mais importante no calendário cultural da cidade.

Além das centenas de filmes inéditos internacionais e dezenas de pré-estreias brasileiras, o público de São Paulo vai desfrutar eventos especiais, como por exemplo, uma retrospectiva de 17 títulos do diretor Andrzej Wajda.

Cena do filme "Kanal", clássico de Wajda

Ele foi um dos primeiros diretores a colaborar para o cinema polonês se tornar conhecido no resto do mundo. Wajda permaneceu ativo até o seu falecimento, aos 90 anos, no último domingo, 09 de outubro. Antes de obras primas como "Kanal" (1957) e "Cinzas e Diamantes" (1958), por exemplo, os brasileiros nem sabiam que existia cinema na Polônia.
O filme “Noite de Verão em Barcelona” não é falado em espanhol, mas em catalão que é o idioma mais usado naquela região da Espanha. Esta é uma comédia que envolve seis histórias de amor manifestadas durante a noite de 18 de agosto, na qual o cometa Rose atravessa o céu de Barcelona. Por ser a mais quente do ano, as pessoas acreditam que os casos de amor serão mais numerosos. Em 2013 o diretor Dani de la Orden fez "Noite de Inverno em Barcelona", e o assunto também foi... histórias de amor.
Mas além da Mostra, o cinema na cidade continua oferecendo novidades, como por exemplo "Terra Estranha", uma obra de suspense dirigida pela novata e promissora australiana Kim Farrant. No elenco temos Nicole Kidman e Joseph Fiennes. 

Um casal se muda para o deserto australiano de Nathgari. Quando uma grande tempestade de areia atinge a região, os filhos do casal desaparecem. Desconfia-se de assassinato, e os principais suspeitos são os próprios pais.
Um dos filmes mais elogiados da semana é uma animação japonesa. Trata-se de "Kubo e as Cordas Mágicas". O diretor é Travis Knight, que é um dos maiores especialistas em “stop motion”, como é conhecida a chamada animação por meios de bonecos. Ele foi responsável, por exemplo, pelo belíssimo desenho de horror que foi "Coraline", de 2009.

O filme "Kubo", porém, é uma narrativa tradicional, mas pontuada pelo humor. O personagem central vive com a mãe em uma pequena vila no Japão. Até que um espírito vingativo do passado faz com que todos os tipos de deuses e monstros passem a persegui-lo. Então, "Kubo" terá de encontrar a armadura mágica de seu falecido pai, um lendário samurai do passado.
As estreias ainda nessa semana se encerram com o excelente documentário "Dó Pó da Terra de Maurício Nahas". Na casa das pessoas de bom gosto é fácil encontrar as belas peças de artesanato produzidas no Vale do Jequitinhonha. Em geral são figuras humanas que parecem vivas de tão expressivas. Quem as faz é gente que sobrevive do barro. O filme mostra a vida dessas pessoas capazes de transformar miséria em arte. Uma arte que se acha em extinção

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Os filmes lançados no circuito comercial de SP na semana iniciada em 13 09 2016


Tom Hanks volta ao papel de Robert Langdon em "Inferno", agora ao lado de Felicity Jones

Em função do feriado da semana passada, passamos para hoje o tradicional comentário sobre as estreias da semana. Trata-se de uma semana um tanto agitada pela proximidade da abertura da 40ª Mostra Internacional de cinema, que é acontecimento cinematográfico mais importante no calendário cultural da cidade. 
Ron Howard é um daqueles profissionais super vorazes, que querem fazer de tudo no cinema: trabalhou como ator em 85 filmes, produziu 88 e dirigiu 39. Ganhou 2 Oscars por "Uma Mente Brilhante" de 2001 mas, para o mercado, o que conta é ter feito blockbusters como "O Código de Vinci" em 2006 – o titulo baseado no milionário bestseller de Dan Brown. Aquele mesmo autor lhe rendeu "Anjos e Demônios" em 2009 e, agora mais um inevitável sucesso, que é "Inferno"

O astro é o mesmo Tom Hanks, o professor de simbologia bancando de detetive, mais uma vez encarregado de salvar a humanidade, volta e meia ameaçada por um perigo mortal. O público adora desvendar mistérios escondidos em obras da literatura clássica, como "A Divina Comédia", de Dante Alighieri. Os resultados dos dois anteriores já dão uma ideia do que podemos esperar deste terceiro episódio da série...


Voltando a horrores mais palpáveis e próximos de todos nós, temos “Kóblic”, um novo título argentino estrelado por Ricardo Darín. O diretor é o mesmo Sebastián Borensztein que fez a bem sucedida comédia “Um Conto Chinês” em 2011 (que ficou várias semanas em cartaz).

Mas agora o tema é mais pesado, porque Darín interpreta um aviador que, durante a ditadura militar na década de 1970, coordenava as operações aéreas conhecidas como os "voos da morte", em que os suspeitos de subversão eram simplesmente jogados no mar. Os admiradores de Ricardo Darín, no entanto, não precisam se preocupar, porque o diretor construiu o papel dele com certa dignidade... 

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

"A Fantástica Fábrica de Chocolate" torna-se um grande espetáculo nas mãos de Tim Burton


Johnny Depp (centro) protagoniza a versão da história dirigida por Tim Burton (de 2005)

Nem só de desenhos animados vive o cinema infantil. Agora que Tim Burton vem tratando mal o mito de Alice no complicado “Através do Espelho”, é o momento de retomar algumas pérolas do passado - um passado, aliás, que já foi várias vezes revisitado. Estamos falando de "A Fantástica Fábrica de Chocolate", um filme rigorosamente feito para crianças por Tim Burton, que está em cartaz com "O Lar das crianças Peculiares".
Por meio de cinco personagens infantis, ele traça um painel de comportamentos positivos e negativos (de pais e de filhos) que, evidentemente, merecem recompensa ou punição. Nas mãos de Tim Burton, a história edificante de Roald Dahl adquire a estatura de grande espetáculo, ideal para esta semana das crianças. O seu estilo sombrio e de inspiração expressionista se manifesta em todos os aspectos do filme. Especialmente na cenografia e na concepção realmente fantástica da fábrica de chocolate.
O seu misterioso dono proporciona uma jornada cheia de maravilhas (e de horrores) a 5 jovens convidados escolhidos por concurso. Entre eles, uma menina milionária e mimada e outra que vive para competir com as demais; um garoto comilão e outro
 viciado em jogos de computador (e de comportamento agressivo). A quinta criança é o herói: Charlie, um garoto extremamente pobre e de bom coração, que vive em harmonia com a sua família.

Tim Burton (centro) dirige cena de "A Fantástica Fábrica de Chocolate"

O papel é de Freddie Highmore, que foi o Peter de "Em Busca da Terra do Nunca", filme em que contracenava com Johnny Depp - como acontece também aqui, em que Depp interpreta o dono da Fábrica de Chocolate. Esse personagem é uma pessoa que não superou os problemas de infância.

Existe uma versão para o cinema filmada em 1971. O cômico Gene Wilder era Willie Wonka, o dono da Fábrica de Chocolate que convida 5 pré-adolescentes para passar um dia com ele dentro da Fábrica. Aquele filme foi financiado pela aveia Quaker, que pretendia lançar uma nova marca de chocolate. A receita do produto não funcionou e a marca foi vendida para a São Luís, que mais tarde foi comprada pela Nestlé.

"Pure Imagination", interpretada por Gene Wilder (Wyllie Wonka), marca o filme de '71

Mas a receita cinematográfica de Tim Burton tem tudo para ser infalível. Especialmente, pelo requinte dos efeitos especiais e, pela atuação única de Johnny Depp. E, finalmente, pela música de Danny Elfman, o compositor que já criou várias trilhas para os filmes de Tim Burton. O filme não é um musical, mas as canções que ele fez para descrever e criticar o comportamento dos personagens infantis funcionam muito bem nesta "A Fantástica Fábrica de Chocolate"

Os filmes da Pixar continuam a entusiasmar a criançada


O diretor John Lesseter exibe os personagens de seu filme, "Carros".

Nesta semana das crianças, recheada por um feriado, não podia faltar cinema para todas elas. Mas se você procurar pelas salas, talvez não encontre muitas opções para esse público. Ainda bem que existem várias plataformas, como se diz atualmente, ou várias prateleiras repletas de ofertas cinematográficas: locadoras, TV a cabo, serviços de streaming e muito mais. Vamos aqui ensaiar algumas sugestões.
Algumas chegam em grupo, ou em séries, como a animação "Carros" 1 e 2.O primeiro da série, foi feito em 2006 − também dirigido por John Lasseter, de "Toy Story" e "Vida de Inseto". Esse diretor que já atribuiu vida humana a brinquedos e a insetos faz o mesmo com os automóveis que, afinal, são extensões mecânicas dos próprios seres humanos. Os pára-brisas se transformam facilmente num par de olhos, com duas circunferências que servem de retinas e atribuem expressão à face. Junto com a boca que, é claro, coincide com a abertura do capô.

Há uma duradoura tradição que vem dos tempos de Walt Disney e que permite aos animadores atribuir uma vida quase humana às coisas, ou seja, aos objetos e aos animais. Mas, para os educadores, é sempre melhor quando o filme fala de gente de carne e osso, como é o caso notável de "Os Incríveis".

Cena de "Os Incríveis". Longa conta a história de uma família de super-heróis.

A série "Carros" não tem o brilho de "Os Incríveis", também da produtora Pixar, em cuja ficha técnica John Lasseter aparecia como produtor executivo. Mas tem uma história indiscutivelmente engraçada, ainda que marcada demais pela paixão que os americanos nutrem pelos automóveis. O roteiro é construído em torno de um arrogante veículo de corridas que se perde no deserto. E vai parar numa cidadezinha fora do mapa, onde é preso e condenado a reformar a estrada local.

Aí faz amizade com uma velha caminhonete e um antigo Hudson dos anos de 1950 e aprende a respeitar a vida comunitária. O herói de "Carros" vive uma trajetória de redenção pelo trabalho braçal e pela convivência com as coisas simples, exatamente na linha edificante dos filmes que Frank Capra fazia na década de 1930, para compensar o desânimo da depressão e estimular o espírito cívico. 

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

"Boyhood", de Richard Linklater, trabalha a beleza em estado bruto


A juventude de "Mason" (Ellar Coltrane) é contada nessa ambiciosa obra

Em dezembro de 1895, os irmãos Lumière – pesquisadores franceses da cidade de Lyon – apresentaram ao mundo a sua invenção: o cinema. Eles exibiram uma cena de 40 segundos com um trem chegando à estação. Ou seja, o primeiro filme da história registrava um deslocamento real no espaço.
Por sua vez, a passagem do tempo no cinema continuou dependendo de símbolos – como, por exemplo, os letreiros dizendo “um ano depois”, ou “no dia seguinte” – ou da elaboração de ícones, como a maquiagem usada para “envelhecer” os personagens, ou dos efeitos especiais para rejuvenescê-los. No entanto, o filme "Boyhood - Da Infância à Juventude" trabalha com o movimento real do tempo, porque focaliza um casal e seus filhos que vão amadurecendo, sem maquiagem, diante das câmaras, dos 6 aos 18 anos de idade. 

A filmagem, portanto, durou exatamente 12 anos, e sempre com o mesmo elenco central: Patricia ArquetteEthan Hawke e os jovens Ellar Coltrane e Lorelei Linklater, aliás, a filha do próprio diretor Richard Linklater. Uma das marcas desse cineasta era contar histórias com duração de apenas 24 horas na trajetória das personagens, em filmes como “Antes da Meia Noite” (2013). E agora, nesta experiência premiada com o “Urso de Prata” no Festival de Berlim, ele amplia o recorte para 12 anos. 

A evolução da feição de Ellar Coltrane durante os 12 anos de filmagens

O mais importante da obra, porém, é a emoção, o humor e o senso crítico que Linklater imprime a esse retrato hiper, ultrarrealista da classe media norte americana. Uma série de momentos primariamente banais que, por meio da colagem, se tornam pura poesia. Falo dessa beleza em estado bruto que os poetas japoneses buscavam desde o século XVII e que o filme 
 "Boyhood - Da Infância à Juventude" captura, ao trocar a ação dramática, que os filósofos gregos estudavam desde o século IVº antes de Cristo, pela singela e simples exposição da vida como ela é.

Na próxima semana será lançado o filme mais recente de Richard Linklater. Trata-se de “Jovens Loucos e mais Rebeldes” – que o diretor considera um estudo sobre os jovens universitários dos anos de 1980. Um filme muito diferente deste que você poderá ver em DVD ou em outro suporte pela internet.

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

"Humano - Uma Viagem Pela Vida" é um documentário poético de arrancar o folego


Documentário mostra uma diversidade de visões de mundo expostas em entrevistas

O fotógrafo francês Yann Arthus-Bertrand não é um nome consagrado, nem ao menos amplamente conhecido entre os realizadores de documentário – gênero que, aliás, só agora parece chamar atenção da crítica brasileira de cinema como um todo, uma vez que a associação nacional dos críticos resolveu dar início a uma pesquisa histórica em busca dos 100 melhores documentários nacionais. Voltando para Yann Arthus-Bertrand, ele está lançando "Humano – Uma Viagem Pela Vida", filmado em 60 países e envolvendo mais de 2000 entrevistas. 

A produção não esteve a cargo de nenhuma empresa, mas de duas fundações: a GoodPlanet e a Bettencourt Schueller, comprometidas com a educação sobre o meio ambiente e a luta contra as alterações climáticas e suas consequências. O primeiro filme de Yann Arthus-Bertrand foi "Home - Nosso Planeta, Nossa Casa"lançado em 2009. Era um amplo retrato do planeta que foi assistido por cerca de 600 milhões de pessoas, a maior parte fora dos circuitos comerciais. No mesmo ano, ele fez outro filme ambiental chamado "7 bilhões de Outros", visto até agora por 350 milhões. Em 2011, ele fez "Planeta Água" que impressionava pela fotografia aérea, combinada com inacreditáveis cenas submarinas. Mas a meta de "Humano – Uma Viagem Pela Vida" é ainda mais ampla. 

O que chama atenção para o aspecto artístico deste trabalho é a sua filiação a um determinado estilo de documentário pouco praticado ao longo da história. Fundado pelo holandês Joris Ivens, falecido em 1989 aos 90 anos, trata-se do documentário poético, que teve o seu ponto inicial em 1929 com o filme “Chuva”, no qual as imagens e o som eram mais importantes que os acontecimentos e as palavras. Mas desta vez Yann Arthus-Bertrand decidiu ampliar importância das narrativas individuais. É claro que nem todos os 2000 entrevistados foram incluídos na montagem final 


Depoimento do líder político uruguaio José Mujica, presente no documentário

São pessoas comuns falando espontaneamente sobre assuntos como amor, morte, ódio, discriminação, desigualdade, fome, esperança, sexo etc. E invariavelmente com a câmara situada na mesma posição, à frente de um fundo negro, sempre com o entrevistado olhando diretamente para a objetiva. Nos os críticos costumamos a implicar com os documentários que recorrem às chamadas “talking heads”, ou seja às cabeças falantes. Isto é, filmes que se resumem a uma série de depoimentos. Mas no caso de "Humano – Uma Viagem Pela Vida" todas essas falas são de alto impacto e, além disso, são entremeadas por imagens aéreas de arrancar o fôlego de qualquer um.

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Os filmes lançados no circuito comercial de SP na semana iniciada em 06 09 2016 (Continuação)


Leonardo Sbaraglia estrela a película policial "No Fim do Túnel"

A semana cinematográfica continua com uma quantidade de estreias que não cabe em nossos comentários de todos os dias. Começamos com uma pergunta que envolve também uma reflexão. O que seria do cinema, especialmente o de entretenimento, se não fosse o crime? Pois até o cinema argentino, que sempre se esmerou em dramas e comédias leves e bem escritas, traz agora numa história em que o tema central é um roubo mirabolante. Trata-se de “No Fim do Túnel”.

Ator principal na produção brasileira “O Silencio do céu” dirigida por Marco Dutra, o galã argentino Leonardo Sbaraglia de “Relatos Selvagens” protagoniza este filme de suspense dirigido por Rodrigo Grande – este um cineasta em ascensão lá na Argentina. Isso é um sinal de que o cinema de los hermanos também estão embarcando no apoio da TV (no caso a espanhola). Ele faz o papel de um paraplégico cansado de viver só que resolve alugar um quarto para uma stripper e sua filha de seis anos. Na verdade, a moça e o namorado dela planejam construir um túnel por baixo da casa e assim roubar um banco da região. O filme vale pela construção do roteiro. 

Ainda da Argentina, evidentemente, temos o elogiado docudrama “O Último Tango”. Com produção do célebre Wim Wenders e direção do argentino German Kral, esta é a trajetória de um casal de dançarinos de tango, talvez o mais famoso da história: María Nieves e Juan Carlos Copes. Eles se conheceram na década de 1940 e dançaram juntos por 50 anos – tempo em que eles se amaram e se odiaram profundamente. 
“Um Doce Refúgio” é uma simpática comédia que vem para amenizar o clima. É dirigida e interpretada pelo comediante Bruno Podalydès, que já tem 14 títulos como diretor. É a história de um artista gráfico que sempre foi fascinado pela ideia de um dia pilotar um avião. Ate que ele descobre que a engenharia de um caiaque é muito parecida com a de uma aeronave. E então compra um, sem que sua esposa saiba. 
Conrad Vernon já dirigiu filmes de animação como Madagascar e Shrek 2. E agora faz a comédia “A Festa da Salsicha” na qual os alimentos de um mercado nem suspeitam de que serão cortados, cozidos e devorados! Quando uma salsicha descobre a verdade, ela reúne outros alimentos com a tarefa de voltarem ao mercado e alertar os colegas do risco que correm.

Os filmes lançados no circuito comercial de SP na semana iniciada em 06 09 2016


O ex-presidente uruguaio José Mujica em cena de "Humano - Uma Viagem Pela Vida" 

É provável que o grande filme desta semana seja um documentário. Todos os demais lançamentos se mostram menos importantes que ele, em termos de fotografia, abrangência de temas e tamanho de elenco: ou seja, centenas de depoimentos selecionados a partir de mais de 2 mil entrevistados. Trata-se de "Humano – Uma Viagem Pela Vida", filmado em 60 países e abordando a totalidade dos problemas coletivos do mundo atual. 

A direção coube ao célebre fotógrafo Yann Arthus-Bertrand, famoso pelo requinte de suas imagens aéreas absolutamente exclusivas. Por ouro lado o aspecto introspectivo do filme quer registrar quem somos nós atualmente. Tanto em termos de vida social, como enquanto indivíduos, os depoimentos falam de guerra, descriminação, injustiça e desigualdade. Mas também sobre felicidade, amor, sexo e solidariedade. Trata-se, enfim de um filme engajado na luta pela paz e pela salvação do planeta. Mas, acima de tudo um documentário poético e humanitário. 
No extremos oposto temos um filme de suspense, ficção científica, ou se preferirem, de antecipação, chamado “12 Horas Para Sobreviver - O Ano da Eleição”. O diretor e roteirista James DeMonaco imagina um futuro em que, nos Estados Unidos, num determinado dia a cada ano, todos os crimes são permitidos, inclusive os assassinatos, durante 12 horas. Uma determinada candidata à presidência da república em como bandeira eleitoral acabar com esse costume. Adivinhem, portanto, qual é o principal alvo dos criminosos de todo o país...
Antigamente no cinema americano, existia uma regra que determinava o seguinte: não poderiam existir criminosos bem sucedidos. Ao final dos filmes, todos os bandidos deveriam morrer ou ir para a cadeia. Mas agora isso mudou e, como vemos, vale tudo. A prova está em “Assassino a Preço Fixo 2 - A Ressurreição”, em que o herói é o truculento Jason Statham, aqui apoiado por Jessica Alba, Tommy Lee Jones. Com a mulher sequestrada, ele é obrigado matar três pessoas, sempre fingindo que foram acidentes.
Enquanto não estreia a série televisiva “O Espião que Veio do Frio”, prometida para o ano que vem e baseada num filme de 1965, estrelado por Richard Burton, os admiradores do escritor John Le Carré precisam se contentar com a estreia de “Nosso Fiel Traidor”, filme adaptado de uma novela do mesmo escritor. Agora com 85 anos, Le Carre é um autor especializado no tema da espionagem. Não daquele estilo mais movimentado, tipo James Bond, mas contendo tramas refinadas como “O Jardineiro Fiel” de Fernando Meirelles (2005) e “O Espião que Sabia Demais” (2111) com Gary Oldman. 

“Nosso Fiel Traidor” é estrelado por Ewan McGregor e Stellan Skarsgard. E repare que os filmes baseados em livros de Le Carré pedem sempre um elenco de categoria. Dirigida por Susanna White que fez muitos programas para a TV da Inglaterra, a história começa no dia em que um integrante da Máfia Russa pede para um casal de viajantes ingleses levarem um pen drive com informações para o Serviço Secreto Britânico.
Amanhã continuamos a comentar os lançamentos da semana. Ate lá!